A Cabala cristã
Etimologicamente a palavra Cabala (Kabbala) significa simplesmente "tradição" e sua raiz hebraica "receber". Isso indica que diversas tradições receberam o que poderia se qualificar de revelação oral e escrita. Esse foi o caso para o povo hebreu.
Nascimento da Cabala
Essa tradição religiosa foi transmitida à partir de Moisés a Joshua, seguido pelos Juízes e depois os Reis. (Nós podemos seguir essa tradição na própria Bíblia). O Sacerdote do Templo tinha essa tradição religiosa em depósito mas às vezes precisava da ajuda dos Juízes e Profetas para superar as dificuldades de transmissão. Evidentemente o texto foi perfeita e fielmente transmitido, ainda que frequentemente de forma literal.
O sopro do espírito era, portanto, necessário para manter a herança dessa revelação através de um tipo de continuidade do contato com Deus. Os Profetas garantiram essa função da mesma forma que os oráculos da antiguidade recebiam a mensagem divina que testemunhava essa realidade transcendente. Mas mesmo nesse caso, os comentários ou autoridades tinham dificuldade em deixar o texto literal para se elevar ao comentário místico ou espiritual do texto original. O misticismo sempre foi uma parte essencial da vida espiritual judaica. A tradição sugere fortemente que a fonte foi o próprio Abraão.
Hoje em dia é comum afirmar que a Cabala se aplica exclusivamente a um conjunto de literatura esotérica que emergiu na Espanha medieval e no Sudeste da França, em Provença. A partir daí continua a se expandir.
É certo que há dois mil anos os rabinos do Talmud não usaram essa palavra, mas falavam de "nistar", que corresponde ao mundo secreto da Torá, que estando em paralelo com o "niglah", isto é, o que é revelado. No entanto, as raízes dessa tradição voltam inequivocamente bem mais longe e até mais certamente nas religiões pagãs da Babilônia. A tradição judaica se apropriou de uma parte dessa herança, adaptando a seus textos sagrados.
Esses períodos da história da religião judaica foram tempos de conflitos sectários. Como qualquer época desse tipo, foram ao mesmo tempo ricos em reflexões teológicas vindas de vários grupos e seitas. Os rabinos que redigiram o Talmud estavam tentando manter certa ortodoxia e eram obviamente cautelosos de qualquer desvio demasiado sectário. Eles então se referiram a essa mística pelo nome genérico de Ma'aseh Merkava. O Talmud insiste no fato que o que diz respeito a esse conhecimento não deveria ser ensinado às massas, mas somente aos que têm maturidade necessária a esse estudo. Pode-se dizer que se trata da fonte do que será um pouco mais tarde chamado de kabbala.
São indicadas várias experiências místicas no Talmud, por exemplo, a do Rabino Simon Bar Yochai, mas não há menção de um livro que ele tenha escrito.
É nesse momento que entra na história o Sefer Yetzirah, primeiro livro explicitamente kabbalista. Ele aparece entre os séculos 3 e 4. Todos os especialistas não estão de acordo sobre o fato que o que possuímos hoje seja o que é mencionado no Talmud, mas nada parece invalidar isso.
Essa obra nos mostra pela primeira vez uma maneira diferente de ver Deus e suas relações com os homens e o mundo. O alfabeto hebraico é aqui evocado como auxiliar da criação (o que também vemos no Zohar). As correspondências entre as partes do corpo, os astros, os meses do ano, os metais, etc. são de importância primordial. Essa tradição desenvolveu práticas e ritos muito interessantes. Ultrapassando a corrente hebraica, os ritos iniciáticos dessa etapa se encontrarão, por exemplo, na Ordem Kabbalistica da Rosa-Cruz, após ter sido transmitidos pelos kabbalistas cristãos e as correntes hermetistas da Rosa-Cruz. Como veremos adiante, esses conhecimentos são heranças da antiga tradição helenista, pitagórica e neoplatônica. Isso será explicado abundante e brilhantemente pelos kabbalistas cristãos.
Os escritos seguintes mais significativos foram o Sefer Raziel ou "o livro do anjo Raziel", o Sefer Bahir ou "o livro da iluminação"), e o Zohar ou "livro da luz brilhante". De certa maneira eles foram os pilares dessa tradição oculta. Segundo algumas fontes, o Zohar foi descoberto por Moisés de Leon, que viveu por volta de 1290 na Espanha. Mas é atribuído ao Rabi Shimon Bar Yochaï, o Rashbi, aluno do Rabi Akiva que teria escrito esse conjunto de textos já no terceiro século. Foi depois da captura e prisão do Rabi Akiva que Rabi Shimon Bar Yochai viveu em uma gruta com seu filho por treze anos. Ele saiu desse retiro tendo escrito esse Livro do Esplendor que ficou perdido durante dez séculos. Moisés de Leon o redescobriu e publicou. Esse texto do Zohar é um conjunto de vários volumes de comentários sobre a Torá (conjunto dos cinco primeiros textos da Bíblia). Seu estilo contrasta com os comentários geralmente muito racionalistas. A partir daí, ele se torna o texto de referência desenvolvendo a sabedoria da kabbala.
No fim do século treze os judeus conheceram um período instável e perigoso na Espanha. Isso não impediu grandes místicos como Abulafia de pregar a tolerância e a abertura de espírito, escrevendo obras de grande profundidade. Em seguida os judeus foram expulsos da Espanha e certo número se refugiou em Safed na Galileia. Foi lá que apareceu uma nova escola de kabbalistas.
Durante essa época, a kabbala se desenvolveu em um lugar em que os judeus e cristãos ainda vivam em boa inteligência, a Provença. Essa civilização extraordinária ainda não tinha conhecido as cruzadas que iriam destruí-la definitivamente. Os cursos então eram dados livremente nas várias universidades do Languedoc, independentemente das confissões dos professores. Obras filosóficas vindas de diferentes correntes espirituais e filosóficas incluindo o Islã foram traduzidas. Avicena, Averroes e Maimônides furam então publicados e estudados para a maior glória do espírito humano. Devemos enfatizar que foi também no Languedoc (Sul da França) que se revelou alguns séculos mais tarde a Ordem Cabalística da Rosa-Cruz.
No século 16, em Safed, o Rabi Isaac Louria assim como vários cabalistas prosseguiram o trabalho sobre as obras anteriores. Eles desenvolveram práticas e técnicas capazes de ajudá-los a realizar as experiências descritas nos livros que estudaram. A cabala foi assim mais conhecida e melhor entendida. Tornou-se o meio de ultrapassar a letra do texto servindo-se de sua riqueza e de sua potência. É preciso mencionar que essas tradições foram ao mesmo tempo orais e escritas. Elas foram orais no sentido em que as técnicas e ensinamentos eram transmitidas dos Mestres aos discípulos; escritas no sentido em que certo número de textos e conselhos foram redigidos. Mas não era raro que os Mestres morressem deixando um terço de seus escritos a seus discípulos, queimando outro terço e se fazendo enterrar com o outro terço. Era importante para eles que as técnicas essenciais fossem o resultado de um trabalho interior e não de simples recepção de um texto que permanece fora da experiência individual. Vamos encontrar o traço desse costume nas tradições da cabala cristã e da Rosa-Cruz. Segundo a lenda, quando a tumba do fundador dessa tradição, Christian Rosencreuz foi encontrada, ele tinha entre os braços um livro, o livro T.. Interessante semelhança simbólica!...
Os cabalistas desenvolveram suas práticas e seus estudos à margem dos poderes universitários. Isso atraiu frequentemente a oposição dos rabinatos. Era muito difícil identificar uma autoridade precisa na corrente da cabala porque esse conhecimento era utilizado em diversos grupos interessados pela mística, magia, esoterismo, etc. Tudo isso frequentemente contribuiu para o caráter suspeito da cabala.
Ela continuou a desenvolver no ambiente judaico da África do Norte (Sefarade) e no meio judaico da Europa (Ashkenaze). Foi assim até nosso tempo em que vários mestres judeus são os herdeiros dessa corrente antiga. Todavia, deve-se lembrar o que dissemos anteriormente, isto é, que essa corrente vinda do judaísmo continua antes de tudo a ajudar os indivíduos de fé judaica a aprofundar a mística e espiritualidade de sua tradição.
É por essa razão que os cristãos se curvaram a partir do século 15 nessa tradição e sobre a maneira que lhes poderia ser útil.
Cabala cristã e Cabala hermética
O humanista Pico della Mirandola (Pic de la Mirandole) reivindicou ser o primeiro estudante latino no século 15 a estudar a cabala e parece que esse foi o caso, mesmo se os judeus convertidos se aproximassem dessa ciência. Em todo caso, ele foi o primeiro indivíduo nascido cristão a estudá-la. A partir do século 13, era reconhecido que o Talmud e a Midrash tinham influências cristãs e que isso poderia ajudar na conversão de judeus. Esse motivo contribuiu para o fato de que certos cristãos começaram a estudar a tradição hebraica assim como a cabala. Encontra-se, por exemplo, essa justificativa nas cartas dedicatórias das obras dos cabalistas cristãos para esse ou aquele papa. Dessa maneira o autor poderia esperar passar através das suspeitas que pesavam sobre todos os cristãos que estudavam a cabala. Isso era ainda mais importante pois se queria abordar a questão das práticas.
O primeiro judeu a verdadeiramente se converter ao cristianismo foi Abner de Burgos (1270-1348). Ele tomou o nome de Alfonso de Valladolid em 1320. Como Abulafia, ele teve visões sobre as técnicas de permutação das letras. (Veja parágrafo sobre a língua hebraica).
Quando Pico de la Mirandola nasceu, os judeus conheceram esse período de paz do qual falamos anteriormente. Esse foi o caso tanto sob o domínio muçulmano da Espanha e na terra cristã no Languedoc e Provença. Esse foi o primeiro período de encontro entre esses pensamentos diferentes. Esse enriquecimento mútuo durou até a reconquista. Foi a partir daí que aumentou o ódio contra os judeus e bem mais tarde conduziu às atrocidades que conhecemos. Os judeus foram deslocados a partir de 1477 e conheceram uma deportação massiva da Espanha em 1492. Entretanto, os cristão deixaram a escolha entre a partida forçada e a conversão. Embora essa última situação fosse muito precária, vários a escolheram. Isso os permitia prosseguir por certo tempo o estudo do que se tornou o Antigo Testamento e de maneira muito mais discreta, da tradição cabalistica.
Apesar dessa rejeição do povo judeu, a própria hierarquia da Igreja católica aceitou o interesse desses estudos. Mas nós bem sabemos que não foi apenas por uma questão de instrução.
As traduções dos textos judaicos e cabalisticos foram efetuados por vários judeus convertidos. Foi o caso, por exemplo, de Samuel ben Nissim Abulfarash (1226-1286) que foi mais conhecido após sua conversão sob o nome de Flavius Mithridates. Ele traduziu mais de 3000 páginas de obras hebraicas e formou Pico de la Mirandole. Mithridates, como mais tarde os outros cabalistas cristãos, procurou convencer o papa que ele poderia provar as verdades cristãs pela cabala. Não há dúvida que também foi ele que traduziu as obras mais especializadas para o ensinamento de Pico de la Mirandole. Apesar disso, alguns pesquisadores reconheciam que os conhecimentos kabbalisticos de Pico eram bem limitados.
Mithridates introduziu o livro do Sepher ha-Bahir com Pico que o estudou em sua língua original. É interessante notar que essa obra apareceu no Languedoc por volta de 1150 e já manifestou uma fusão entre as tradições cabalisticas judaicas, neoplatônicas e gnósticas.
Observamos como outra influência sobre o jovem Pico, Pablo de Heredia (1408-1486), assim como o misterioso professor Dattilo ou Dattylus havia escrito bastante sobre a magia. Algumas das ideias de Pico de la Mirandole manifestam claramente essa influência.
Os cabalistas cristãos tinham uma abordagem inteiramente nova ao judaismo. Evidentemente eles reconheceram o interesse e a qualidade dessa tradição religiosa. Para alguns deles as religiões anteriores, incluindo assim a que compunha o fundamento da religião universal à qual eles pertenciam, o cristianismo. É muito difícil hoje saber o que eles tinham em mente quando formularam essa ideia. Nós temos duas coisas para julgar. A primeira permanece em seus escritos e a segunda, as tradições ocultas que eles constituíram e são transmitidas a partir deles. Como já tivemos a chance de dizer, deve ser lembrado que esses escritos foram publicados levando em conta o olhar e o julgamento da Igreja. Portanto, nem sempre leve os textos ao pé da letra. Quanto às tradições que se seguiram, assim como Agrippa, dão uma ideia mais precisa da intenção de partida. O que podemos dizer é que o fundamento de seu pensamento reside nas religiões espirituais que precederam, quer se trate da Suméria, Egito, Grécia ou do judaismo. Todas participaram da fundação de uma espécie de religião esotérica universal.
Exotericamente, os cabalistas cristãos não tiveram nenhum problema em chamar essa religião de católica pois essa palavra significa etimologicamente universal. Todavia, a leitura de seus textos nós mostra que seu conceito dessa religião universal não é nada idêntica à da Igreja ortodoxa ou da Igreja de Roma. Essa religião universal derivada dos princípios esotéricos da cabala que eles desenvolviam, não outra coisa que um hermetismo neoplatônico. De fato, tratava-se de de uma forma de espiritualidade integrando de maneira harmoniosa e tolerante as diferentes formas religiosas da tradição ocidental. Quanto aos sacerdotes, eles tiveram que, tanto quanto possível, se tornar adeptos iniciados da verdadeira ciência, a cabala. Essa última apareceu como uma palavra genérica cobrindo esse conhecimento do iniciado a esses mistérios. Longe de ser uma nova leitura do cristianismo, era antes uma nova forma religiosa que terá consequências em todo o Ocidente e dará nascimento, além das correntes teúrgicas neoplatônicas, às correntes maçônicas, Rosa-Cruz e ocultistas.
É interessante rever essa gênese na carta prefácio de Reuchlin ao Papa Leão XIII. Só se pode ser atingido, seja por sua desconcertante ingenuidade, ou pela ousadia de seus propósitos. De fato ele começa sua carta por uma explicação clara das circunstâncias do renascimento do neoplatonismo e da nova academia platônica em Florença. Mas ele não ignora a aparência da academia, mas também do fato que ela foi fundada pela iniciativa de Cosmo de Médici e sobre os ensinamentos do último descendente da tradição pagã helenística, Pleton. Ele introduziu no Ocidente uma seiva vivificante que foi capaz de quebrar a casca dos dogmas, revelando assim as consciências desses indivíduos de exceção. Se essa renovação da filosofia clássica era limitada nesse aspecto isso já era extraordinário. Esse foi, naturalmente, o caso, mas também deu nascimento a uma grande corrente que transformou literalmente as letras e as artes. A semente de liberdade havia germinado e poderia então eclodir em toda a Europa. Mas a transmissão não se limitou às letras. É claro hoje em dia que atrás da academia platônica, se encontrava a tradição oculta e iniciática do hermetismo. Queremos falar de um ensinamento real, ao mesmo tempo simbólico e ritual que implica todo um conjunto de práticas. Presumivelmente como resultado de uma iniciação, os irmãos recebiam o que é de direito chamar ensinamento esotérico e estando unidos em uma verdadeira família espiritual. Essa tradição hermetista remontava a um período pré-cristão em um tempo em que a Bíblia ainda não tinha sido inventada... Hermes Três Vezes Grande, Thoth Hermes já era o Deus que havia trazido a ciência e a magia aos homens através da escritura sagrada hieroglífica. Os hebreus ainda eram um povo politeísta... No final do Império Egípcio, Alexandria foi o lugar extraordinário de encontro de todos os sábios que perpetuaram essa maravilhosa tradição sob as vestes dos cultos de Mistérios e a ciência teúrgica. É essa tradição que foi transmitida através do que foi chamado a cadeia de ouro dos adeptos. Ela atravessou a história e se revelou plenamente durante esse período excepcional.
Eis o que Reuchlin escreveu sobre isso: "Para essa missão ["o caminho para encontrar os segredos que até a ele permanecem ocultos nos monumentos literários dos Antigos."] ele [o ilustre Laurent de Médicis, pai do Papa] se aplicou para trazer de todos os lugares os homens mais doutos e os mais eruditos em literatura antiga, que juntaram à ciência da eloquência, Demetrios Chalcondyle, Marsilio Ficino, Georges Vespucci, Christophe Landino, Valori, Ange Politien, Jean Pic, Comte de la Mirandole, e todos os maiores sábios do mundo, que trouxeram à luz as invenções dos Antigos e a misteriosa antiguidade que a infelicidade dos tempos fez esquecer. Os maiores espíritos aí rivalizaram. Um ensinou, outro comentou; um havia feito acervos, outro interpretou e traduziu de uma língua a outra. Marsilio trouxe a Grécia para a Lazio. Politien levou os Romanos à Grécia. Todos se entregaram à obra não sem que ela gerasse muita glória aos Médicis." […]
"Além disso, no pensamento de que apenas as doutrinas pitagóricas estavam faltando aos sábios, cujos fragmentos, portanto, estão ocultos espalhados na Academia Laurentiana, eu pensei que eu expusesse ao público o que, dizem eles, Pitágoras e os grandes Pitagóricos pensavam. Com vosso feliz consentimento os Latinos lerão o que até agora ignoravam. Para a Itália, Marsilio publicou Platão. Para os Franceses Jacques Lefèvre d'Etaples renovou Aristóteles, eu terminarei a conta, e eu, Capnion, mostrarei aos Alemães um Pitágoras, cujo renascimento por meus cuidados é dedicado a vós. A obra não poderia ser concluída sem a Cabala dos Hebreus. A filosofia de Pitágoras começou com os preceitos dos «Cabalaei», e a memória dos Patriarcas deixando a Grande Grécia voltou a se ocultar nas obras dos Cabalistas. Então quase tudo tinha que ser desenhado. Também eu escrevi sobre a arte cabalistica, que é uma filosofia simbólica, para fazer conhecer os ensinamentos dos «Pythagoraei» aos eruditos."
Voltaremos um pouco mais adiante nessa obra, mas já é interessante notar que a tradução de várias obras da religião judaica está claramente associada às da tradição helenística. Elas constituíram a fonte extraordinária para a qual todos os adeptos posteriores dessa tradição irão atrair.
Vamos observar ainda no final do Renascimento, a importante obra de Christian Knorr von Rosenroth, Kabbala Denundata, que é uma compilação muito importante de textos cabalisticos.
Não faremos uma lista de autores e de todas as obras que eles traduziram ou publicaram. Os historiadores realizaram brilhantemente trabalho importante nesse campo e continuam a fazê-lo. Nosso propósito nesta obra é de ajudá-lo a compreender as fontes dessa tradição, de avaliar o interesse, o valor real e de compreender quais são os descendentes. Porque como frequentemente, os historiadores são relativamente objetivos para a história antiga, mas muitas vezes parciais sobre as descendências modernas. Além desses aspectos históricos, é importante lhe dar os elementos necessários à compreensão das práticas dessa corrente que reunimos na segunda parte desta obra. Nem sempre é evidente ver que uma das características de uma via tradicional, espiritual e iniciática, consiste em associar a prática ao estudo teórico. Nós entendemos que esse último é fundamental, mas não deve substituir uma abordagem prática que é capaz de inspirar e validar os exercícios cabalisticos. Sem isso, poderiam permanecer uma pura abstração pura e cortada do sagrado. Não vamos esquecer que o objetivo do praticante é de se elevar à divindade, ou em linguagem mais contemporânea, alcançar os níveis de consciência capazes de revelar o divino em nós. Não vamos esquecer que mesmo para o cristianismo, Deus fez o homem à sua imagem. Certamente poderíamos discutir sobre o termo "imagem", que não pode efetivamente explicar uma realidade, mas sua imagem degradada. Entretanto, preferimos seguir os antigos autores platônicos que reconheciam no ser encarnado a presença do divino. Essa ocultação da alma pelo corpo justificava os exercícios espirituais e as iniciações capazes de liberá-la progressivamente. Na tradição cabalisica hermetista, nada nos permite negar isso, bem ao contrário. Não vamos esquecer que foi a academia platônica de Florença sob a égide e o impulso de Ficino e Pico que criou a corrente da qual falamos. Johann Reuchlin, que tivemos a oportunidade de citar aqui mais particularmente foi para Florença para encontrar os irmãos da Academia.
Vamos lembrar par terminar que os atuais descendentes dos cabalistas cristão do renascimento, quer fossem ocultistas ou hermetistas, devem se orgulhar dessa herança. Eles devem sempre lutar pelo ideal que seus antigos mestres incorporaram, reunindo o conhecimento dos textos e das línguas, suportado por uma constante prática interior.
Extrato de « ABC de Kabbale Chrétienne », Editions Grancher, Jean-Louis de Biasi.